Tão igual, mas, tão diferente
Entre o fim do dia agitado e o calor abafado lá fora, sentes aquele perfume tão teu conhecido.
Enroscas-te mais no seu colo e sentes o cheiro de quando só eram dois. Aquele cheirinho dos primeiros tempos, aquele cheirinho que te dava confiança e segurança.
Dás por ti a lembrar desses tempos, da facilidade da vida e fluidez dos dias. Lembras-te daquele passeio no carro e da música que tocava, afinal ainda sabes a letra de cor.
Lembras-te de como os dias eram fáceis e as manhãs lentas e tardias, e as noites longas. Olhas para ele, igual mas diferente.
Olhas para a sala e vês ainda os brinquedos espalhados pelo chão que tens que arrumar antes de deitar. Lembras-te de tudo o que fizeste durante o dia e nem sequer saíste de casa. Lembras-te dos recados para amanhã e das horas para cumprir. Felizmente ainda ninguém acordou.
Olhas para ele, concentrado na televisão, e pensas em tudo o que já passaram. Fazes as contas de cabeça e nem acreditas nos anos que lá vão. Dantes falávamos mais, pensas. Agora partilho mais, sabes.
Olhas para ele, igual, mas diferente.
Enroscas mais fundo a cabeça no seu peito e lá sentes outra vez aquele perfume do antigamente. Pensas que há já muito tempo não o sentias e lembras-te daquela festa onde falaram horas a fio. Era tudo tão fácil, pensas tu, enquanto te vem à cabeça o peso dos anos e a rapidez com que passou.
Olhas para ele, tão igual mas tão diferente.
Pensas no caminho que fizeram até aquela casa, até aquele sofá, nas decisões e nas escolhas. Tantos anos mas não sentes o peso. Lembras-te na aflição da primeira febre, e na felicidade do primeiro sorriso. Lembras-te daquele primeiro passinho tão aguardado e tão tardio. Lembras-te da ansiedade da ecografia do segundo e da ida para o hospital, e do tormento do parto do terceiro.
Ouves barulho num dos quartos e sabes que não tarda nada alguém vai entrar na sala. Olhas para o relógio e ficas preocupada com as horas, amanhã acordam cedo e os meninos têm que descansar. Olhas para a sala, com os brinquedos espalhos pelo chão e sabes que ainda os tens que arrumar. Vês a tua tshirt com uma nodoa e lembras-te do jantar. A dois, a três, e a quatro, a cinco.
Olhas para os legos e para os carrinhos e sentes a casa cheia.
Olha para ele, tão igual, mas, tão diferente.
Texto lindo :)
ResponderEliminarComo compreendo estas palavras!
Beijinhos