Somos mais do que aquilo que achamos que somos





Durante mais de um mês carreguei um peso pesado, mais pesado do que deveria, mais tempo do que achava que conseguia, mais doloroso que pensava que poderia ser.
Durante mais de um mês vivi o segundo e o minuto, o momento e um dia apenas por dia. Chorava para fazer parar e congelar aqueles segundos bons, em que quase que esquecemos.


Durante mais de um mês tinha que respirar fundo para conseguir fazer chegar ar até aos pulmões, tinha que parar fisicamente para pensar mentalmente, tinha que pensar em milhares de coisas sem pensar em mim. Tinha um nó na garganta que descia até ao coração, tinha um sono acordado e um sono preocupado, e revia mentalmente todos os pormenores e todos os dados para não ficarem esquecidos. Desdrobei-me e multipliquei-me, dividi-me e anulei-me. Deitava-me a sentir que não conseguia mais e acordava pronta para o dia. 
Gritei em silêncio.

Contei centenas de vezes o mesmo, relembrei centenas de vezes os factos bons, estudei os maus. Fiz do longe perto, do complicado simples, aprendi novas linguagens e novas simbologias. Fiz acontecer, fiz chegar, corri contra o tempo e contra o calendário, não baixei os braços nem deixei que o fizessem. 
Protegi e amparei. 
Chorei escondida, chorei para dentro, chorei sozinha, chorei de medo e chorei de alívio. 
Rezei. Pedi. Ofereci. Agradeci. 

Durante mais de  um mês vi a vida em perspectiva, tive o sabor amargo de futuro negro, tive medo.  Tive medo, tive aquele medo que não deixava respirar, tive aquele medo que não deixava andar. Deixei ir uma  parte de mim.
Deslarguei-me de uma parte que não faz falta. 

Dei valor ao pequeno, ao invisível, ao silêncio, às palavras não ditas mas sentidas e tocadas. Dei valor às pequenas vitórias, aos pequenos gestos, aos beijos soprados e aos abraços oferecidos. Dei valor aos gestos que nos faziam chegar, ás palavras sussurradas, aos olhares trocamos, à força enviada, aos pensamentos positivos.
 Aprendi que somos mais do que aquilo que achamos que somos, e que aguentamos mais do que achamos que conseguimos. 

Mas acima de tudo, aprendi que não precisamos de passar por nada sozinhos, que temos à nossa volta pessoas excepcionais, que gostam mais de nós do que nós imaginamos. 

São, sem dúvida alguma, são as coisas pequenas que nos tornam em grandes. 






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Comentários

  1. Olá Marta,

    O texto é bonito, mas ficamos a saber o mesmo, se não quer partilhar não devia falar.
    Peço desculpa pela sinceridade, e espero que fique tudo bem.


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    Respostas
    1. Olá cara anônima,
      No meu blog posso desabafar ou partilhar conforme achar melhor para mim. Nem sempre se escreve para dar informações aos outros, pode-se também escrever como desabafo, ou até mesmo escrever para nós próprios.
      Tal como já lhe tinha referido antes, por vezes acontece a nós o que só acontece aos outros.
      Bjs

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  2. Neste momento estou na fase "Chorei escondida, chorei para dentro, chorei sozinha, chorei de medo (...)", talvez daqui a uns dias (ou semanas) as coisas melhorem. Ou, pelo menos, deixe de chorar escondida e sozinha.

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  3. Um grande beijinho.
    Que esteja tudo no bom caminho!

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