Quando eles me revitalizam
Há tempos escrevi que por vezes os filhos cansam-nos. Sugam a
nossa energia repetidamente, dezenas de vezes, centenas de vezes , dezenas de
centenas de vezes, dia após dia, semana após semana.
É verdade.
Mas também revitalizam-nos.
É uma dualidade engraçada e irónica, tanto nos roubam a vida dos
anos como nos devolvem essa mesma vida a triplicar ou a quadruplicar.
Quando o mais novo nasceu, e desde que nasceu, todas as noites
canta-lho duas ou três músicas. Começou com uma, a das galinhas doidas, depois
aumentei o repertório e inclui o " atirei o pau ao gato" e temos
ainda mais uma inventada do elefante que vai a horta tentar comer uma bolota,
mas o cão não deixou e fechou-o na casota.
Ele pede-me as músicas, para o ajudar a acalmar e a adormecer. O
que ele não sabe, é que ajudam-me mais a mim do que ele. Ao colo, com a cabeça
a encostada no meu ombro, no escuro e a balançar de um lado para o outro,
cantamos os dois. Nem cinco minutos são, e devolvem-me anos de vida. Recupero a
energia perdida, recupero o que perdi durante o dia, recupero a cabeça e mente. Ganho forças.
Deito-o na cama, ele pede para ter a porta aberta, saio e deixo-a
encostada. Entro no quarto do mano, que
está à minha espera pacientemente. Não temos músicas definidas, mas sim a
"promessa de ficar muuuuuito tempo e dar beijinhos. É o nosso tempo"
como diz todas as noites.
Sento-me na cama, de bochechas encostadas, e em sussurinha falamos
do dia de amanhã. "É a nossa regra, mamã, e tem que ser assim todos os
dias". É sim, e é assim todos os dias, este nosso pequeno ritual, que me
revitaliza.
Ontem cheguei tarde, com (muita) fome, cansada e moída. Depois de
ter estado em Lisboa, desde sexta, e com um sábado e um domingo intensivos,
finalmente cheguei (bastante mais tarde do que queria e do que disse que iria) e já sem forças no corpo. Eles estavam
ansiosos à minha espera. Foram a absorventes e insistentes, melados e
excitados. Brincamos às lutas, à apanhadinha e até ao esconde-esconde. E foi
revitalizante. As cócegas que induziam um riso contagiante, e parecia que me
devolviam os anos perdidos neste fim-de-semana.
Não sou uma pessoa lamechas, não acordo a beijar o dia, nem adoro
ser acordada cedo pelos miúdos. Não ando
sempre a flutuar pela casa num estado
semi consciente de uma utopia do amor nem encaro as
birras como demonstrações de amor constante. Há muitas (mas muitas) vezes que
me irrito e que me zango, que berro, que fico cansada das músicas e dos
brinquedos espalhadas pela casa fora, das desarrumações, do panda e do ruca, das zangas entre eles.
Dou beijos e brinco aos dragões, dou abraços e miminhos e faço festinhas. Há
momentos que parece que a minha bateria é descarregada por eles.
E nos momentos mais cansativos, mais difíceis e mais extenuantes, eles enchem-me de energia, de saúde, de bem-estar, e revitalizam o corpo, cabeça, mente e coração.
E nos momentos mais cansativos, mais difíceis e mais extenuantes, eles enchem-me de energia, de saúde, de bem-estar, e revitalizam o corpo, cabeça, mente e coração.
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