A mãe e as amigas da mãe

Depois de ter lido esta crónica, e  especialmente depois de ter lidos os inúmeros comentários face a crónica, até fico com medo de escrever.

Primeiro, arrepia-me só de ver a quantidade de pessoas que conseguem escrever comentários só para criticar, dizer mal e até insultar terceiros, que não conhecem nem sabem nada das suas vidas. Mas isto da internet tem estas coisas, se por um lado conseguimos fazer amigos espalhados pelo mundo fora, também conseguimos então fazer inimigos. Se por um lado conseguimos ter acesso a ideias novas, e opiniões frescas, também funciona como plataforma para facilmente criticar agressivamente quem está do outro lado. É espantoso a segurança que uns demonstram quando estão escudados por um monitor e um nome inventado. 

Segundo, em lado nenhum do seu artigo a autora refere que não ama a sua filha, nem muito menos que se arrependeu de ser mãe. Antes de criticar é necessário não só saber ler como também perceber o que lá está escrito. 

Terceiro, e não me venham com tretas, qual pai e qual mãe nunca teve um dia mais difícil, uma semana mais intensa com os filhos, programas com amigos abdicados porque não arranjam quem pudesse ficar com as crianças,  etc etc??? Quem nunca sentiu que o tempo que tinha para si, para as suas coisas agora é ocupado com coisas para os filhos? Quem nunca deixou de ir ao ginásio, correr, cinema, por causa dos filhos? 
Obviamente que não são motivos que levem os pais às lágrimas, ou que induzam crises de choro compulsivo pelo progenitor, e que geralmente até fazemos de bom grado e com um sorriso na cara. 
Mas, especialmente quando é o primeiro filho, sentimos uma rotação de 180 graus na nossa vida.



É uma boa rotação, não haja dúvida, mas é abrupta e incisiva de um momento para o outro. Não se pode dizer que a gravidez ( considerada normal e sem risco) seja uma preparação gradual para o que vem aí, pois ainda conseguimos ir a sítios, dormir, falar com amigos, conviver. É certo também que as nossas conversas mudam, tal como as nossas prioridades. Falamos dos filhos e do que queremos fazer com eles, da escola, das festinhas, das habilidades, dos cremes que usamos e papas que experimentámos. Logicamente, este tipo de conversas só tem interesse ( e durabilidade) com quem tem conhecimentos recíprocos. 

Pessoalmente, senti esta mudança quando o meu primeiro filho nasceu. Passar do ter tempo só para mim , para ter tempo só para o bebé e quase nenhum para mim. Esta transição foi fácil e difícil (contradição, risos). Foi fácil abraçar o bebé e recebê-lo no seu novo espaço da família. Foi fácil sentir-me mãe e desenvolver as tarefas associadas a ele. Foi difícil perder-me na falta de tempo, ter que fazer as coisas dele e arranjar tempo para as minhas (que tinha mesmo que fazer). Demorou algum tempo a que a família encontrasse um novo equilíbrio, com novas rotinas, novas funções para cada um. 

Penso que é diferente para a mãe do que para o pai. E por diferente, quero dizer mais difícil. Por alguma razão conseguimos sempre associar um sentimento de culpa a tudo o que envolve os nosso filhos. Já os pais, maridos, não o fazem, e assim conseguem mais rapidamente "recuperar" as outras esferas sociais que deixaram em standby. Mesmo numa tarde livre, em que podemos fazer tudo e mais alguma coisa, optamos por ficar em casa a tomar conta dos filhos. Precisávamos de ir ao médico, mas ficamos com eles para que não sintam que estão sozinhos. Já o pai aproveita de bom grado todas tardes livres que possam aparecer. 
Não discuto que uns gostam mais dos filhos ao que outros, mas sim que sentimos de maneira deferente. 

Deixo aqui a minha lista de o que é que eu acho que as mães precisam 

Voltando ao tema principal, uma mãe é um ser humano, uma mulher, uma filha, irmã, amiga. Não é apenas mãe, e para que como pessoa se sinta bem consigo própria, necessita que todas as esferas do seu ser estejam bem resolvidas. 

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Comentários

  1. Maravilhoso este texto!
    Mãe de 3 me acuso! Estou à espera que o último cresça um bocadinho para poder continuar com as minhas aulas de ginásio.
    Estou a precisar de ir ao cabeleireiro, e tratar um pouco de mim, mas quando?? Se de segunda a sexta é um "corre-corre" para o trabalho, escolas e casa? E ao fim de semana os miudos têm uma série de actividades e não dá muito jeito levar os 2 mais novos (mesmo 1 que seja) para fazer uma visita ao cabeleireiro, ir ao ginásio, enfim... pacientemente à espera que cresçam ;)

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    1. Obrigada pelo sei comentário e elogio! É verdade, ficamos submersas nas vidas dos nosso filhos e deixamos outras coisas para mais tarde. Não quer dizer que seja mau nem pior do que era, apenas é uma fase diferente. Um grande beijinho para si e espero vê-la mais vezes por aqui. Bjs aos 3 piolhos

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  2. Eu adorei o artigo em questão. Achei genuíno, original. Não desdenha a maternidade, mas apenas desfolha parte dela. Que é válida como tema. ;) somos ou não somos reais?!
    Chamou a atenção a partilha de um senhor, que nunca passou por ter aquela pele de mãe, mas insiste em ter sabedoria para criticar. Vá pastar, meu senhor. Cof, Cof... Adiante...

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  3. Eu também gostei, não é propriamente o meu estilo de escrita, mas é verdadeiro e reflecte o dia a dia de uma recém mãe. Sinceramente, acho que as pessoas gostam de criticar só por criticar, pois não creio que não haja nenhuma mãe que nenhuma vez não tenha sentido aquilo.

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